L-Erbgħa, 1 ta’ Ottubru 2008

Dubitável?

Ontem na aula formulamos um argumento cartesiano pela existência de uma substância com a propriedade (categórica) de ser duvidante:
(1) Meus sentidos já me enganaram (experiência de erro)
(2) Meus sentidos podem me enganar a cada instância em que eles são usados (1, generalização, introdução de possibilidade)
(3) Meus sentidos podem me enganar em todas as instâncias em que eles são usados (2, CT)
(4) Meu raciocínio já me enganou (experiência de erro)
(5) Meu raciocínio pode me enganar a cada instância em que ele é usado (4, generalização, introdução de possibilidade)
(6) Meu raciocínio pode me enganar em todas as instâncias em que ele é usado (5, CT)
...
(i) Posso estar enganado acerca de tudo
(Lema) Sou capaz de duvidar de tudo (i, cautela diante da possibilidade do engano)
(L1) Há algo com a propriedade disposicional de duvidar de tudo
(L2) Deve haver uma base categórica para qualquer propriedade disposicional (suposição atualista de base para as disposições)
(L3) Deve haver uma propriedade categórica de ser duvidante (L1, L2, explicação do Lema)
(L4) Há uma substância com a propriedade categórica de ser duvidante
Algumas observações:
sobre CT) Chamo de CT as inferências modais de cada para todo. Trata-se de uma inferência que não é garantida: que cada bilhete de loteria pode ser premiado não se segue que todos os bilhetes de loteria podem ser premiados.
sobre as reticências) Algo análogo vale para memória, testemunho etc.
sobre L1-L3) Há vários passos questionáveis no argumento. Aqui o argumento se compromete com um certo atualismo, com a idéia de que disposições requerem bases.
Interessante considerar uma variante de L2 (e de todo o resto do argumento) baseada na idéia de Hinge Propositions do Da Certeza de Wittgenstein:
(L2) Posso duvidar de tudo se posso me apoiar em proposições empíricas que funcionam como eixos, como dobradiças para a dúvida. (explicação de Lema)

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