Il-Ġimgħa, 22 ta’ Frar 2008

Excessos e Exceções

O livro está sendo terminado. Faltam umas notas, os muitos agradecimentos e o posfácio. E, também, o index. Coloquei o índice na lista de links chamada Alguns escritos, abaixo.


excessos e exceções
por uma ontologia sem cabimento

O livro (de aproximadamente 90.000 palavras) trata da questão de como pensar singularidades. Há diversas maneiras de suspeitar que o pensamento está condenado às generalidades (às descrições, ao que pode estar sujeito a normas, ao universal, ao geral pensado). Procuro examinar as suspeitas e mostrar como elas podem parecer convincentes. A questão é apresentada e tratada de diversas maneiras em diálogos com muitas questões contemporâneas em filosofia. Ao longo do livro, considero algumas idéias de autores como Agamben, Butler, Davidson, Deleuze, Duns Scotus, Evans, Foucault, Guattari, Kaplan, Levinas, McDowell, Spinoza e Russell sobre singularidades e como pensá-las. Ao final proponho uma direção para que as singularidades possam ser concebidas como acessíveis ao pensamento sem se tornarem meras instâncias de descrições gerais. O livro, portanto, gira em torno de como é possível pensar algo (um objeto, um acontecimento, um processo, uma pessoa) sem descartar de imediato aquilo que o torna singular.
O livro se compõe de 45 pequenos capítulos que são mais ou menos independentes entre si. A idéia é construir um caleidoscópio em torno do tema da singularidade pensada. Os capítulos se dividem em três partes:
I. Exemplares e singulares.
Aqui, um capítulo introdutório (chamado “casos pensados”) e outros 10 capítulos introduzem algumas questões sobre o pensamento, seu elo com a verdade e a tensão entre pensar com verdade e as singularidades. O tema da relação entre descrições definidas e instâncias é tomado como um fio condutor pelo mosaico de formas de introduzir a questão do livro
II. Pensar o único.
Em 24 capítulos, aqui a questão adquire vários matizes. Os elementos éticos e políticos das nossas capacidades de pensar o singular são invocados bem como a dificuldade de conceber o pensamento como sendo mais do que uma manipulação de descrições. A tensão recorrente é aquela entre admitir que partes do mundo são singulares, de um lado, e conceber que o pensamento atua como uma teia de relações internas, de outro. Aqui algumas questões filosóficas contemporâneas como o essencialismo, a metafísica da presença, a natureza da subjetividade, o ceticismo e a vida nua são postas em relação com o esforço de encontrar um modo de pensar o singular.
III. Excessos de exceções.
Nos 10 últimos capítulos apresento um caminho para argumentar que o pensamento pode tratar, em um certo sentido e se levarmos em conta sua dinâmica, de singulares. O foco é considerar não apenas as relações entre os conteúdos pensados, mas também os atos, as durações, enfim, a dinâmica do pensamento. Por fim, a última parte procura re-introduzir a noção de experiência na discussão sobre singularidades em termos diferentes daqueles em que ela é normalmente discutida. Os aspectos ontológicos e políticos da relação entre pensamento e singularidade são trazidos à tona. O livro termina apontando direções para que o pensamento não fique indiferente às singularidades (aquilo que não tem cabimento, que não cabe em nossas descrições).

2 comments:

eloamarelo said...

ainda me formo em filosofia, mas minha idade estimula a um comentário: q "singular" hilan!! gostei. "...a tensão entre pensar com verdade e as singularidades", me parece mais do q apropriada, mesmo q eu não saiba sobre as noções do singular, além do singular q me habita, lerei sobre essa tensão, já q sem dúvida esse terreno singular seja um dos mais verdadeiros mas ao mesmo tempo misteriosos. beijos, namastê

lus said...

Caramba, que desafio! Será possível pensar singularidades (atenção para o plural de inspiração deleuziana!) sem cair em “descrições gerais”? Você bem sabe que essa questão me inquieta, e o faz por motivos éticos-levinasianos-vattimianos: como proteger o singular da violência do “geral pensado”? Esse danado do “geral pensado” termina por anular, ainda que na intenção mesma de pensar o singular, a própria singularidade (o que, a meu ver, é o “tiro no pé” que se dá Lévinas). Por outro lado, Agamben parece realmente abrir um caminho e, o que mais me impressiona no seu pensamento, não é tanto a vida nua e as suas implicações políticas (por mais que, claro, tudo isso seja muito importante), mas a “singular qualquer” de La comunità che viene. Sabe, em muitos momentos e apesar de Agamben, cheguei a pensar (não sei se com tristeza ou alegria) que a filosofia não dá conta do problema e que, para tanto, precisamos da arte... Mas será que o singular tem o seu lugarzinho (um lugarzinho acolhedor e não violento) no nosso pensamento? O seu livro vai, certamente, dialogar com os meus pensamentos. Conversamos mais depois.